Tudo aconteceu na volta de um show meu e da dupla do meu pai em Curitiba-PR. O show foi incrível. Eu comecei, depois entrou Maurício e Mauri. O dono da festa, grande amigo do meu pai, pediu para eu tocar mais tempo, então eu e ele continuamos por mais 35 minutos. Cantamos juntos, fizemos o que sempre fizemos: levar alegria, dividir o palco e viver aquilo que amávamos. O show terminou às cinco da manhã.
O motorista da van estava descansando no hotel Bourbon, e outra van nos levou para tomar café da manhã. Depois carregamos tudo e seguimos rumo a Indaiatuba-SP. Todos dormiram no início da viagem. Acordamos por volta das 12h30 para almoçar. Depois disso, ninguém mais pregou os olhos: estávamos alegres, fazendo música, compondo letras. Até colocamos no som da van uma produção minha. Meu pai, que nunca deixava ligar música ali dentro, sorriu e aceitou. Foi especial. Se ele permitiu, é porque tinha gostado.
Pouco depois, no meio da resenha, só vi o motorista virar a van na direção de um caminhão parado. A batida pegou exatamente no lugar onde estavam meu pai e nosso amigo e roadie, Douglas Riva. Douglas se foi na hora. Eu vi tudo. Vi a van destruída por dentro. Vi meu amigo desacordado, outro pedindo ajuda.
Quebrei a janela com as mãos para conseguir sair. Era a única saída. Dei a volta e fui até o banco do motorista para ver meu pai. Ele estava com vida, respirando. Enquanto eu falava com ele, ligava para o resgate. Eu precisava resolver tudo e, ao mesmo tempo, ficar ali, olhando para ele naquele estado — mas vivo.
Eu disse o quanto amava ele. Minha mãe e minha irmã, em chamada de vídeo, também falaram com ele. Ele ouviu. Chorou. E ali, diante de mim, deu seu último suspiro. Dessa forma eu me despedi do meu maior exemplo de vida.
Meu pai foi o homem mais trabalhador, honesto e talentoso que já conheci. Aprendi tudo com ele: trabalhar, viver os palcos, amar, correr atrás dos sonhos. Eu só queria poder abraçá-lo mais uma vez. Eu te amo sempre e para sempre, papai.







